
Com ela aprendi a costurar, com ela aprendi a plantar, a rezar, com ela aprendi a maior lição de todas: o dom da caridade, desde que me conheci por gente a via plantando diversos chás que ela mesma nem usava mas que sempre alguém batia em sua porta e pedia Dona Hilda você tem um chá pra isso, para aquilo, e lá ela ia com toda boa vontade ajudar mais um necessitado, e ela que arrecadava roupas e doava para quem precisava. Um coração que nasceu com um buraco, que não suportou mais que 57 anos mas que suportou carregar todos os filhos e netos, e amigos que precisavam fosse a hora que fosse, não esquecia de ninguém, e mesmo aquele que tanto havia errado e a mal tratado lá estava ela abrindo as portas assim como a história do filho pródigo ela sempre fazia e os acolhia quantas vezes fossem necessárias.
Os almoços de domingo já não existem mais, ela era o grande elo de toda família, onde todos os primos, tios e tias se viam independentes de suas diferenças e discussões, ela tinha o poder de unir, minha avó se foi há alguns anos e queria compartilhar isso com vocês porque muita vezes passamos por situações que machucam tanto, que nos doem tanto, que nos sentimos totalmente nada, assim eu me senti quando a perdi, ela que foi e é uma das pessoas que mais amei na vida, e a primeira morte que presenciei na família, numa semana extremamente conturbada, eu me lembro de ter chorado todos os dias por 4 anos, um brilho em mim havia se apagado depois que ela se foi, não vi muito sentido em várias coisas, graças a minha mãe que sempre me colocou pra cima, e me fez perceber que eu estava deixando de viver sofrendo por essa perda, comecei a transformá-la. Hoje com experiência e propriedade posso assegurar que realmente somos capazes de superar tudo, e transformar a dor em aprendizado.
Transformar o buraco e o vazio que fica em saudade, em agradecimento por todo o tempo que vivemos juntas. Antes de perder minha avó talvez eu seria uma CDF prepotente, que iria estar com 25 anos já no doutorado, ou num cargo altíssimo, pelo tanto de coisas que eu fazia e o tanto que eu estudava naquela época, não que isso não tenha seu mérito, mas depois que ela se foi vi o quanto somos pequenos, o quanto tudo é passageiro, o quanto não temos controle de nada, e o quanto de chance desperdiçamos e tempo.
Hoje mais do que nunca dou valor para coisas simples, para as pessoas e não para os status, e tento aprender com tudo que vivo. E você que dedicou alguns minutos para ler o que eu escrevi, olhe em volta, se você tiver seus avós vivos agradeça essa dádiva, os valorize de verdade, passe o tempo que puder com eles, entenda que há muitas diferenças entre gerações, mas se coloque no lugar daqueles que viram seu nascimento, seu crescimento, que te mimaram, que te deram carinho, que cuidaram quando seus pais precisaram, infelizmente não vivi minha vida toda ao lado dela nem do meu avô mas o tempo que vivi foi suficiente para agradecer a Deus por tê-los conhecido e por muito do que sou hoje ter vindo deles.
As pessoas que você ama nem sempre estarão ao seu lado, muitas vão partir num piscar de olhos, você receberá a notícia por telefone, por mensagem, e na vida real raramente temos aquele tempo das novelas de nos despedirmos e dizermos o quanto elas significam para nós então de verdade olhe para dentro de você, olhe em volta, e perceba se você valoriza e agradece a dádiva de tê-las por perto!? Se algo incomodar no seu coração desfaça essas amarras, a vida é muito imprevisível, e não há um botão de replay para revivermos ou refazermos, então não desperdice o dom de amar e ser amado.
(Carina Silva)
Você arrasa sempre!!! Adorei o texto, me fez lembrar de comoa minha avó foi importante pra mim, e de como carinho de vó faz falta! sz
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